Poucos sons emocionam tanto quanto o eco de turbinas riscando o céu, deixando atrás de si rastros brancos desenhados com precisão e ousadia. É nesse cenário que se destaca a Esquadrilha da Fumaça, oficialmente conhecida como Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA), uma das unidades mais simbólicas da Força Aérea Brasileira (FAB).
Desde sua criação, em 1952, a Esquadrilha vem cumprindo a nobre missão de divulgar a imagem institucional da FAB e estimular o interesse da juventude brasileira pela carreira militar e pela aviação.
Origem: Uma Paixão que Ganhou os Céus
A história da Esquadrilha da Fumaça começa na década de 1940, na então Escola de Aeronáutica, na Base Aérea dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Foi ali, em meio ao entusiasmo dos instrutores de voo e cadetes, que surgiram os primeiros ensaios acrobáticos em grupo — executados nas horas de folga, com o objetivo de reforçar a confiança dos alunos nas aeronaves de instrução.
A primeira apresentação oficial aconteceu em 14 de maio de 1952, para uma comitiva estrangeira. A emoção causada pelas manobras foi tamanha que logo surgiu a ideia de incrementar os voos com fumaça branca, para tornar as acrobacias mais visíveis ao público. Foi assim que, com tanques de óleo adaptados nos T-6 Texan, nascia oficialmente a Esquadrilha da Fumaça, nome que surgiu da expressão carinhosa dos cadetes e do público diante daquele espetáculo nos céus.
Evolução das Aeronaves
Ao longo das décadas, a Esquadrilha da Fumaça voou com várias aeronaves:
- A-29 Super Tucano (desde 2013): turboélice de combate leve, também da Embraer, com aviônicos de última geração e maior capacidade operacional.
- North American T-6 Texan (1952–1976): o avião que deu início à história, com mais de 1.200 demonstrações realizadas.
- Fouga CM.170 Super Magister (1968–1972): jato francês com tecnologia avançada para a época, mas com limitações operacionais no Brasil.
- Neiva T-25 Universal (1980–1983): usado no período de reativação.
- EMB-312 Tucano (1983–2013): fabricado pela Embraer, marcou uma nova era de profissionalismo e projeção internacional.
O atual A-29 é pintado com as cores da Bandeira do Brasil, destacando o orgulho nacional e a excelência da indústria aeronáutica brasileira.
Reestruturação e Profissionalização
A Esquadrilha enfrentou uma breve inatividade entre 1976 e 1980, quando o uso dos T-6 foi descontinuado. Foi reativada com o apoio da Academia da Força Aérea (AFA) em Pirassununga (SP), que continua sendo sua sede até hoje. Em 1982, o grupo passou a ser oficialmente chamado de Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA).
Com o tempo, a Esquadrilha da Fumaça passou a representar não só a FAB, mas também o Brasil no cenário internacional, com apresentações em mais de 20 países, incluindo França, Estados Unidos, Canadá, Chile e África do Sul.
Missão e Valores
A missão do EDA vai muito além do espetáculo visual:
“Realizar demonstrações aéreas a fim de difundir, em âmbito nacional e internacional, a imagem institucional da Força Aérea Brasileira.”
Entre seus objetivos estão:
- Estimular o ingresso na carreira militar;
- Representar o Brasil em eventos de destaque;
- Reforçar os laços entre a FAB e a sociedade;
- Promover a aviação como patrimônio nacional.
Os valores cultivados pela equipe — disciplina, trabalho em equipe, profissionalismo, patriotismo e superação — estão presentes em cada decolagem.
Técnica, Emoção e Rigor
Cada apresentação é fruto de semanas de preparação e execução milimétrica. São cerca de 50 manobras possíveis, dentre elas:
- Loopings e parafusos;
- Túnel de fumaça;
- Coração no céu (uma das mais emocionantes);
- Cruzamento de alta velocidade;
- Desenho das letras “FAB” nos céus, um clássico da formação.
Os pilotos da Esquadrilha são escolhidos entre os mais experientes da Força Aérea, e passam por um intenso programa de treinamento, que inclui formação técnica, domínio de aeronaves e condicionamento físico.
Tragédias e Superação
Apesar de todo o preparo e segurança, a Esquadrilha da Fumaça também enfrentou momentos trágicos:
- 1961 – Florianópolis: colisão entre dois T-6 durante solenidade militar. Um dos aviões caiu no centro da cidade.
- 1995 – Rio Negrinho/SC: o Capitão Cláudio Gamba faleceu ao perder o controle de sua aeronave.
- 2010 – Lages/SC: o Capitão Anderson Amaro morreu em acidente durante uma apresentação.
- 2013 – Pirassununga/SP: os Capitães João Igor Pivovar e Fabrício Carvalho faleceram após ejeção mal sucedida em voo de treinamento.
Cada perda reforçou o compromisso com a segurança e a continuidade do legado.
Um Espetáculo Para Todas as Gerações
Com mais de 70 anos de história, a Esquadrilha da Fumaça é sinônimo de emoção, técnica e brasilidade. Por onde passa, inspira crianças, jovens e adultos a sonharem com o céu — e a enxergarem nele não apenas acrobacias, mas uma verdadeira expressão de orgulho nacional.